A responsabilidade dos artistas sobre acidentes em shows
- henriquecesarmello
- 22 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
Em meio a notícias dos mortos e feridos no festival Astroworld, de Travis Scott, como o artista se responsabiliza e lida com isso

Na sexta-feira, 5, o tão aguardado festival de rap e trap, Astroworld, idealizado pelo rapper Travis Scott, em Houston, Texas, nos Estados Unidos, ganhou os noticiários não só norte-americanos, mas sim do mundo todo. E, infelizmente, pelos motivos errados.
Desde o começo do dia, multidões de fãs alucinados se aglomeravam desesperadamente tentando garantir um lugar mais perto de seus ídolos. Mas foi no final, já de noite, que o problema real apareceu. Quando chegou o momento do show do headliner, Travis Scott, criador do festival, a multidão se espremeu cada vez mais, até que muitos foram desmaiando, perdendo a consciência.
Hoje, já se somam 10 mortes e mais de 300 feridos por causa do esmagamento e pisoteamento enquanto todos avançavam em direção ao palco, incluindo duas crianças. Assim, após pouco mais de duas semanas após a tragédia, com desdobramentos desde cancelamento dos outros dias de festival até mais de 10 processos que Travis terá que responder por, muito se discute sobre a responsabilidade dos próprios artistas quando situações como essas acontecem.
Ainda sobre o rapper de Houston, Travis sempre foi conhecido por ter uma base de fãs maluca, que gosta que seus shows sejam problemáticos. O artista também tem fama de incitar a violência nos seus shows. Certa vez, quando um fã tentou roubar seu tênis durante a apresentação, Travis gritou para os fãs “quebrarem ele” na platéia, indicando que era para quem estivesse ali, batesse no suposto ladrão.
Nos anos de 2015 e 2017, Travis Scott foi preso após shows, ambas vezes por incentivar moshs e invasões de palco, dizendo para seus fãs ignorarem a segurança e invadir violentamente. Além disso, em show semanas depois de ser preso e fazer acordo com as autoridades, o rapper repetiu o mesmo comportamento, e no show em questão, um fã subiu em uma varanda e caiu, ficando paraplégico e depois processando Scott, porque ele teria feito seus seguranças arrastarem o corpo gravemente ferido do jovem de 23 anos, na época, para o palco, para que ele o desse um anel como prêmio de consolação.
Outro exemplo da negligência de Travis foi quanto em 2015, durante uma apresentação do Lollapalooza, que durou apenas cinco minutos, pois muitos fãs invadiram o palco em que o músico estava. Um vídeo mostra ele exigindo que os seguranças saiam e parem de “atrapalhar”, gritando “queremos raiva”.
Em um programa, o astro do rock e vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, relembrou que a banda quase acabou por situação similar à que viria acontecer no Astroworld.
Durante o festival Roskilde, na Dinamarca, nove pessoas morreram e 26 ficaram feridas em acidente muito parecido ao que aconteceu neste mês nos Estados Unidos.
No programa, Eddie revela que um dos integrantes da banda sugeriu que nunca mais fizessem shows, o que não aconteceu, mas o acontecimento impactou a todos. O astro do rock conta que tiveram que fazer um show pouco tempo depois pois já estava marcado, e que os integrantes estavam se sentindo mal e inquietos na noite anterior, ainda sim sem digerir completamente o que houve anteriormente.
Diferente de Eddie, similar à Travis, Miley Cyrus teve um comportamento quase perturbador durante um show em Detroit, em 2014. Ao perceber que duas fãs estavam brigando na platéia, a cantora parou a música e começou a gravar a cena.
Artistas se revezam entre querer ajudar o público a ficar bem durante o show, e não se importar com a saúde dos mesmos.
Após relatos de incitação a violência, apoio às loucuras realizadas durante apresentações desses artistas, podemos levantar o questionamento: até onde vai a responsabilidade do músico em se preocupar com o que está acontecendo na platéia de seu show?
É de se esperar que os músicos tenham ética e parem seus shows quando perceberem que existem pessoas passando mal, ou situações como o esmagamento estejam acontecendo. As pessoas estão ali exatamente para ver eles, se inspiram neles e nas atitudes deles. Por isso, é necessário que façam o mínimo para que seus fãs também se preocupem e percebam o quanto o momento exige atenção.
O caso do Astroworld, por exemplo. O local em que foi realizado o festival já tinha problemas com superlotação e não ser capaz de conter a quantidade de pessoas que iam para certos eventos. O de Travis Scott vendeu mais de 100 mil ingressos. Com isso, as falhas de segurança apenas agravaram os problemas que iriam surgir durante o dia.
A responsabilidade que recai sobre o artista é de reconhecer que o momento se torna inviável para a realização do show, e se preocupar mais com a segurança de seus fãs do que com o espetáculo.
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