Algum dia, voltaremos aos gramados e arquibancadas.
- Amanda Grota
- 27 de set. de 2021
- 2 min de leitura
Era abril de 2017 quando pisei pela primeira vez no gramado do autódromo de Interlagos. Naquele dia não havia carros de corrida passando pelos meus olhos no que eu, inocentemente, chamaria de velocidade da luz. Ferraris, McLarens e Mercedes deram espaço aos quatro palcos do festival Lollapalooza e dezenas de artistas se apresentaram ali durante cerca de dez horas.
E eram dez horas da manhã quando eu saí de casa e talvez onze e meia quando passei por grades simples e mal encaixadas atrás de um dos palcos, uma entrada destinada aos colaboradores envolvidos no festival. Eu e mais três amigos demos sorte, já que o pai de um deles era coordenador de iluminação dos palcos.
Antes de sair de casa, procurei por todos os itens que julgava necessários: documentos, dinheiro, chaves, celular e papel higiênico, já que os banheiros químicos usados em eventos podem deixar - e muito - a desejar. Juntei tudo em uma mochila cujas alças rasgaram pouco tempo depois. Vesti uma roupa apropriada para o calor do dia, mas me lembrei de levar uma blusa para os famosos ventos congelantes do anoitecer de Interlagos.
Depois de andar muito, comer um hambúrguer superfaturado, tirar fotos de qualidade duvidosa e assistir a alguns shows não tão esperados assim, a noite finalmente chegou. Com ela, veio uma das grandes atrações do Lollapalooza 2017: a banda The Strokes. A briga por espaço na plateia estava acirrada. Mas com a ajuda de pulseiras amarelas, abrimos caminho em meio à multidão (e seus gritos de protesto) até a cabine de som no meio do gramado. Arriscamos o inglês para cumprimentar a equipe e nos sentamos em cima de caixas de som. A voz marcante de Julian Casablancas deu início ao show e eu pude sentir o tremor nas pernas.
Nos anos seguintes, todos nós tivemos a oportunidade de assistir a outros de nossos artistas favoritos ao vivo. Não juntos, não de graça e muito menos de uma posição tão privilegiada, mas estivemos em estádios e arenas de São Paulo cantando com toda a força. E ainda bem que aproveitamos. Em março de 2020, com a pandemia do Covid-19, todos os eventos foram suspensos, como o leitor deve bem saber.
Muito rapidamente, tudo o que um dia foi sinônimo de alegria, diversão e alto astral, virou sinônimo de perigo e morte iminente. A espécie de depressão comunitária vivida pelo país e pelo mundo e a ansiedade causada pela incerteza nos fizeram temer as plateias, os hambúrgueres preparados por pessoas sem máscara e as fotos em grupo. Shows e festas clandestinas despertaram o ódio de quem tentava respeitar as medidas de segurança.
Agora, após mais de 500 dias de isolamento social - para uns mais do que para outros - começamos a retomar nossas rotinas e os eventos que não eram tão rotineiros assim, como o Lollapalooza e outros festivais de música. Enquanto esperamos e compramos ingressos para 2022, apenas nos resta dar o play no Spotify e colocar a imaginação para funcionar. Eu mesma tenho ouvido The Strokes com frequência e acabei chegando à conclusão de que someday… I ain't wasting no more time.

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