Do VMA ao Grammy: o preconceito instaurado nas premiações musicais

Polêmicas e críticas que cercam as premiações mostram que ser indicado à uma categoria não é suficiente. E mais ainda, que estamos longe do cenário ideal

Kanye West interrompe Taylor Swift durante VMA 2009. Foto: reprodução

O ano de 2009 marca um dos momentos mais polêmicos na história do prêmio que consagra os melhores vídeos do ano. Há doze anos o MTV Video Music Awards premiava Taylor Swift com o melhor vídeo feminino daquele ano com 'You Belong With Me'.

Ao ser anunciada como ganhadora, Taylor subiu ao palco para agradecer e fazer seu discurso, mas antes mesmo de dizer uma só palavra, ela foi interrompida por Kanye West, que pegou o microfone para contestar o resultado e dizer que tinham pessoas que mereciam mais.

Há quem concorde com Kanye. Há quem diga que o que ele fez foi um total absurdo e um desrespeito. Entretanto, mesmo que não tenha sido a melhor forma de apontar um erro da indústria, as razões do rapper são válidas e mostram um preconceito enraizado nas premiações.

"Ei, Taylor, estou muito feliz por você. Vou deixar você terminar, mas Beyoncé teve um dos melhores vídeos de todos os tempos!", anunciou Kanye ao pegar o microfone. Naquele ano, Taylor concorria com Beyoncé, Katy Perry, Pink e Lady Gaga, todas no auge de suas carreiras.

Beyoncé é dona de um dos maiores sucessos daquele ano, a música 'All the single ladies' atingiu patamares que não foram vistos antes. Por isso foi estranho para Kanye não ver a cantora recebendo o prêmio. Para ele, as razões disso ter acontecido são claras, essa foi a primeira vez que o rapper se posicionou sobre o racismo instaurado nas premiações.

Mas mais do que uma questão de raça, é também uma questão de empoderamento feminino. Tanto o vídeo da Beyoncé, quanto das outras concorrentes, mostravam mulheres empoderadas tomando o controle de suas próprias vidas, e detalhe, sem precisar de um homem para isso. Em contrapartida, o vídeo da Taylor era só mais uma história romântica entre a garota desajeitada e o menino bonitinho.

Em um salto de 11 anos, chegamos a um momento em que a questão feminina não parece ser mais um problema, não como antes. Acredito que isso seja mais uma mudança gerada pela transformação da própria sociedade, que hoje empodera mais suas meninas e mulheres.

Contudo, o racismo ainda é constante. Em janeiro de 2020, aconteceu a 62ª cerimônia do Grammy Awards e nesta edição duas categorias chamam atenção: Melhor Álbum de Música Contemporânea e Melhor Álbum de Rap.

Os dois ganhadores dessas categorias são negros. Para Melhor Álbum de Música Contemporânea — seja lá o que isso significa —, dos cinco indicados, todos são não-brancos e quatro deles são negros. A vencedora, a cantora Lizzo, com o álbum 'Cuz I Love You (Deluxe)', é uma das artistas pop mais tocadas atualmente com mais de 18 bilhões de ouvintes mensais no Spotify.

Tyler, The Creator ganhou de Melhor Álbum de Rap com seu trabalho em 'Igor'. Durante seu discurso, ele reforçou o quanto é importante ele, como negro, poder subir em um palco como aquele. Contudo, toda a situação não é ideal.

Em meio a tantas polêmicas que envolvem a Academia do Grammy, Tyler fica dividido entre felicidade e receio, porque "é péssimo que sempre que nós, e eu quero dizer caras que se parecem comigo, fazemos alguma coisa que transcende gêneros ou coisa assim, eles sempre colocam em alguma categoria urbana ou de rap", disse em entrevista.

Ainda sobre a classificação de música 'urbana', Tyler se pergunta o motivo de não conseguir ser indicado nas categorias pop. Sua indicação para rap ou música urbana, não passa de um elogio ambíguo, uma forma sutil de continuar segregando artistas negros.

Em 2021, o Grammy optou por excluir a categoria de música urbana da premiação, mas do que isso adianta se a Academia ainda deixa artista negros de fora? O The Weeknd, por exemplo, se manteve constante em todas as paradas com seu disco 'After Hours', mas não foi nem considerado na premiação. Vários artistas se posicionaram sobre a falta do cantor Abel, relembrando o dia em que Kanye jogou seus grammy's na privada e urinou em cima deles.

A mesma coisa aconteceu na última edição do VMA, em que a cantora pop Olivia Rodrigo dominou a cerimônia, enquanto artistas como Willow Smith — que teve um sucesso semelhante ao da Olivia e lançou um álbum tão bom quanto — não foi nem indicada. Com isso eu me pergunto, até quando artistas negros serão colocados de lado?