O perigo de um show do Ed Sheeran
- Sabrina Damas
- 10 de nov. de 2021
- 5 min de leitura
Era fevereiro. Começo do ano de 2017. Também conhecido como meu último ano no Ensino Médio. Para alguns, esse foi o melhor ano da escola, o ano da despedida entre amigos. Para mim, foi o pior e tudo isso graças ao dia em que eu fui no show do Ed Sheeran com minha colega de classe.
Você deve estar pensando que foi como um show qualquer: trânsito ao redor do estádio, fila pra entrar, fãs histéricas gritando, camelôs vendendo objetos falsificados e uma cerveja custando R$20,00. Mas, não foi só isso. Não quando você vai a um evento comigo.
Vou começar do começo. Nos meus primeiros anos de vida, meus pais perceberam que sou uma pessoa muito atrapalhada. E que se alguma coisa tem que acontecer, vai acontecer comigo, inevitavelmente. E, claro, não foi diferente no dia do show.
O perrengue já começou durante a compra do ingresso. Conversei com meus pais semanas antes da abertura da venda e combinei que eu daria o valor em dinheiro, com a quantia que tinha juntado dos presentes de Natal, e que minha mãe pagaria o dela, visto que eu precisava de uma acompanhante por seu menor de idade. Milagrosamente, todo mundo concordou.
Ouvi das minhas amigas que as filas para compra de ingresso online eram muito extensas e que você precisava ser rápida pra conseguir, principalmente se quisesse o melhor ingresso: a Pista Premium. Me preparei por semanas, afinal era o meu primeiro show. Fiquei entrando e saindo do site para saber onde deveria clicar pra comprar o ingresso e apertando F5 para recarregar a página rapidamente.
Ainda bem que eu treinei, porque isso de recarregar a página eu fiz bastante. Não por conta da fila. Mas porque um dinossaurinho com a mensagem “Não foi possível conectar-se à internet" ficava aparecendo na minha tela. Tá, eu entendi, a internet caiu.
Liguei desesperada para Juliana, uma amiga, até então bem próxima, que também ia ao show. Perguntei se ela já tinha comprado o ingresso e, pontualmente, ela estava fechando sua compra. Pedi que acrescentasse um ingresso meia entrada e disse que transferiria o dinheiro para ela mais tarde.
Ufa, não foi tão ruim. Consegui o ingresso. O ingresso no singular. Porque obviamente, na correria, eu não lembrei de pedir o da minha mãe. Rápido, Sabrina. Pensa num plano rápido. A altura que me dei conta disso às vendas já estavam esgotadas e só me restava àqueles grupos de “Compra e venda de ingressos” do Facebook. Fiz uma publicação pedindo ingresso inteiro para…. Onde era mesmo o lugar que compramos? Mandei mensagem pra Ju perguntando qual era o nosso lugar e adivinha? Era o mais longe possível do Edinho, a cadeira superior.
Tudo certo, pelo menos eu ainda vou no show. Não importa de qual lugar não é mesmo? Nisso, um cara me respondeu dizendo que estava vendendo o ingresso por R$700,00, quase o dobro do valor cobrado. Sem chances. Minha mãe disse que não rolava e pediu que eu vendesse o ingresso que já tinha comprado. Merda.
No dia seguinte, falei com a Ju sobre a situação e ela me convidou para ir junto com ela e a mãe. Felizmente, minha velha concordou e agora tudo ia dar certo.
Faltava 1 semana e eu já tinha montado meu look. Também estava planejando fazer um cartaz. Já que ele não ia conseguir me ver de tão longe, talvez conseguisse ler o meu cartaz.

Fui à papelaria e comprei uma cartolina azul bebê, cor do seu albúm “Divide”, e uma folha de EVA dourado de glitter, com o qual escrevi a frase “Me nota Senpai”. Há algum tempo eu tinha assistido uma entrevista dele com uma jornalista brasileira e ela pediu que ele falasse uma série de expressões em português, e essa era uma delas, que significa “Me nota Mozão”.
Levei quase todo o tempo disponível para finalizar meu (quase) outdoor e o grande dia tinha, por fim, chegado. O evento era no Allianz Parque. Eu como uma nada conhecedora de estádios chequei no google e o trajeto mais fácil era de metrô. Como Juliana não tinha me dito nada, sugeri a ela que fôssemos dessa maneira. Mas, detalhe importante, elas não andavam de metrô. Segundo a mãe era muito perigoso.
Depois de ficar chocada por 30 segundos, concordei que elas viessem me buscar e fomos para o estádio de carro. Pegamos um trânsito maldito, e desnecessário, e chegamos em cima da hora, faltando apenas 20 minutos. Agora só precisava passar na revista pra entrar. Estacionamos, naquele estacionamento caro de R$100,00, contra a minha vontade. Eu desci do carro, já sem muita paciência, e fui para a fila das mulheres.
Soltei um “boa tarde” muito alegre, quando chegou a minha vez, afinal era o último passo para conseguir ver meu ídolo. Eu estava com meu ingresso e cartaz na mão e nada poderia dar errado. A mulher nem respondeu e já começou a me revistar: “Está tudo OK, mas precisa jogar o cartaz fora”, disse a guarda. O QUÊ? Mandei um “sem chances” pra ela, mas na verdade queria falar um “nem fudendo”. “É inflamável e você pode causar algum acidente lá dentro, com isso aí você não entra”, falou em tom ríspido.
Nisso, eu perdi o controle e pedi para que ela me mostrasse onde constava que cartazes eram proibidos no estádio. Bônus: não era. Todo mundo que estava na fila ao lado conseguiu passar. Vendo a situação, eu pedi para que ela chamasse um supervisor e fui levada para uma salinha para discutir sobre as futuras perspectivas do meu mini outdoor. Ju e sua mãe tiveram que me acompanhar.
Passaram mais de 30 minutos, e consegui escutar a gritaria quando o show de abertura começou. Juliana pediu que eu desistisse e apenas jogasse o cartaz fora. Vendo a irritação das minhas companheiras, fiz o que me pediram e joguei no lixo.
Voltei pra fila da revista e advinha? O ingresso que estava na minha mão também foi para o lixo. Tive que pedir para alguns funcionários me ajudarem e o encontrei depois de algumas latas vazias e um pedaço de cachorro quente.
FINALMENTE consegui entrar no show. Fui na frente e escolhi um lugar bem no meio, para conseguir ficar de frente para o meu cantor favorito. O show de abertura estava acabando e logo ele entraria.
Entre o tempo de arrumarem o palco e Ed entrar de fato, começou a chover. Relaxei, pois estava na parte coberta do estádio. Exceto que no lugar que eu havia escolhido, um dos poucos que haviam sobrado com 3 bancos consecutivos, tinha uma goteira. Um pequeno rasgo na tela que cobria o espaço bem no nosso lugar. Olhamos ao redor, mas estava tudo escuro e todos começaram a gritar loucamente quando ele entrou no palco.
Exaustas, decidimos ficar lá, mesmo com a possibilidade de sairmos encharcadas. O show, que estava previsto para ter 3h de duração, durou em torno de 2h, pois Ed estava com dor de garganta. Mesmo assim foi perfeito, porque ele tocou todas as minhas favoritas, entre elas "Lego House" e "Thinking Out Loud" e eu ainda considero esse álbum como sendo o melhor da carreira dele. Posso até fazer um próximo texto sobre como eu amo esse álbum e porquê.
Depois de tudo isso, fomos embora. No dia seguinte, Juliana não falava mais comigo e pediu para que a coordenadora me trocasse de sala. A mãe dela me considerava perigosa.
E foi assim que o show do Ed Sheeran fez eu estudar meu último ano da escola com completos estranhos.
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